O governo do Amazonas confirmou que Luciane Barbosa Farias, esposa de um líder da facção Comando Vermelho no estado, foi indicada por um órgão estadual para participar de um evento no Ministério dos Direitos Humanos (MDH) no início de novembro. No entanto, ainda não havia sido nomeada para o cargo. O Executivo estadual afirmou que ela “não tinha legitimidade para ter participado do encontro como representante do colegiado”.
Conforme revelado pelo Estadão, Luciane, conhecida pela polícia como a “dama do tráfico amazonense”, representou o Estado durante um evento do MDH nos dias 6 e 7 deste mês, com passagens e diárias pagas com dinheiro público.
O Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura contou com mais de 70 participantes de todo o Brasil, cujas despesas foram custeadas pelo ministério. A indicação dos participantes foi feita por comitês locais, incluindo Luciane.
Segundo o governo do Amazonas, Luciane foi indicada para o comitê como representante da sociedade civil pelo Instituto Liberdade do Amazonas (Ila), presidido por ela mesma. Para participar do evento, ela foi indicada pela presidente interina do comitê, Natividade de Jesus Magalhães Maia, também representante da sociedade civil, conforme o governo estadual liderado por Wilson Lima (União Brasil).
O Comitê Estadual para a Prevenção e Combate à Tortura, vinculado à Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania (Sejusc), é composto por membros do Executivo, Defensoria Pública, OAB-AM e sociedade civil do Amazonas. O governo do Amazonas declarou que “questionará à sociedade civil quanto à manutenção do nome de Luciane como parte do comitê”.
Na quarta-feira, 15, o Ministério dos Direitos Humanos afirmou que Luciane foi indicada pelo Comitê Estadual do Amazonas, sem participação de autoridades federais. O ministério ressaltou que o evento contou com mais de 70 participantes de todo o Brasil, e a livre indicação de representantes pelos comitês estaduais foi permitida.
Luciane é acusada de ser o braço financeiro do Comando Vermelho no Estado, sendo casada com o traficante Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas. Ambos foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Tio Patinhas cumpre pena de 31 anos no presídio de Tefé (AM), enquanto Luciane foi sentenciada a dez anos e aguarda recurso em liberdade. O Estadão tentou contato com o Comitê Estadual para a Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.