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RIO BRANCO – O governo do Acre pode ter cobrado propina de empresas que conquistaram obras do poder público. Segundo mensagens obtidas pela Polícia Federal, o governo pode ter cobrado 12% do valor de obras em um esquema de corrupção.

O material consta na documentação que embasou a 3ª fase da Operação Ptolomeu, deflagrada no último dia 9. A operação mirou o governador Gladson Cameli (PP) e membros da cúpula do estado. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ordenou sequestro de bens e que o governador entregasse o passaporte.

O governador do Acre é suspeito de participar do esquema de desvios de recursos públicos e de lavar parte dos valores com carros de luxo, imóveis, aviões e gastos milionários no cartão de crédito.

A defesa do governador afirmou que ele “não cometeu qualquer ilegalidade e o inquérito servirá para comprovar sua inocência, deixando claro que sua gestão sempre foi pautada pela ética e eficiência”.

Conforme informações obtidas pela Folha de S. Paulo, nas conversas, em texto e áudio, funcionários de empresas com contratos no governo falam abertamente do pagamento de contrapartidas para serem contratadas.

Em um dos casos, no início de 2021, por exemplo, um interlocutor de nome Diego, segundo a PF, integrante dos quadros de uma empresa, fala sobre o pedido de pagamento de propina por parte de um assessor de Cameli para conquistar o contrato de construção de um prédio para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

“Mas é isso, só vou pedir duas coisas para vocês, para essa parceria nossa dar certo e não ficar igual às outras duas que eu não tô gostando, aceitem esses 12% no pagamento —vocês vão lá e depositam. E outra coisa é não comentar com ninguém”, diz trecho de um áudio em que Diego relata o pedido do assessor do governador.

De acordo com a PF, a conversa aponta para o recebimento de propina por parte do governador e indica que pode ter havido abuso de poder político e econômica na eleição de 2022, quando Cameli foi reeleito governador.

Outro diálogo que chamou a atenção dos investigadores foi um em que Diego fala sobre uma forma de transportar os valores que seriam utilizados no pagamento de propina. Nessa conversa, ele diz que “queria era uma mochila, uma pasta, alguma coisa, pra entregar esse dinheiro”.

Os pagamentos de propina aparecem, ainda, em planilhas apreendidas pelos investigadores. Em uma delas, o pagamento é classificado como “gastos administrativos”.

Para os investigadores, fica claro nas conversas que os valores têm como beneficiário o governador.

“As reiteradas referências à posição de ascendência de Gladson Cameli quanto às empresas que seriam ‘escolhidas’ para receber obras e quais teriam os seus contratos pagos com prioridade indicam, com pouca margem para dúvidas, que Gladson seria um dos beneficiários da propina paga pelos empresários”, diz trecho de um dos relatórios em posse do STJ.

(*) Com informações da Folha de S. Paulo

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