Em 2021, dada a crise provocada pela pandemia de Covid-19 e o enfraquecimento do Auxílio Emergencial, as taxas de pobreza e de extrema pobreza nas metrópoles brasileiras haviam alcançado os maiores valores da série histórica: 31,3% e 6,8%, respectivamente. Já em 2022 o movimento foi no sentido inverso, de redução daquelas taxas: a pobreza caiu para 27%, e a extrema pobreza para 4,65%. Em termos absolutos, mais de 3,4 milhões de pessoas deixaram a pobreza, e 1,8 milhões deixaram a extrema pobreza. Ou seja, a quantidade de pessoas que ultrapassou a linha de pobreza ou de extrema pobreza nesse período supera a população de muitas das grandes cidades do país. 

As informações estão na décima terceira edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua anual (acumulados na 1ª visita até 2015 e na 5ª visita a partir de 2016), do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita total. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o ano de 2022, de acordo com o IPCA. O estudo trabalha com as linhas de US$6,85 PPC para pobreza e US$2,15 PPC para a extrema pobreza, assim como definidas pelo Banco Mundial. Em valores mensais de 2022, a linha de pobreza é de aproximadamente R$636 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$199 per capita. 

A redução da pobreza, mostra o levantamento, só foi possível devido a uma combinação de fatores. Segundo Andre Salata, coordenador do PUCRS Data Social e um dos autores do estudo, a combinação do aumento da renda média com a redução das desigualdades explica a diminuição das taxas de pobreza e extrema pobreza entre 2021 e 2022. “Nossas estimativas, realizadas a partir de decomposições estatísticas, indicam que o aumento da média de rendimentos foi responsável por 53% da redução da pobreza e 16% da redução da extrema pobreza; enquanto isso, a melhora da distribuição explica 46% da diminuição da pobreza e 83% da diminuição da extrema pobreza. Ou seja, é a combinação desses dois fatores que nos permitiu reduzir significativamente a pobreza de um ano para outro”. 

Sobre o aumento da renda, o estudo mostra que o rendimento médio nas metrópoles, que havia sofrido forte queda em 2020 e 2021, voltou a subir, alcançando o valor de R$1.984. A elevação entre 2021 e 2022, de 6,5%, ainda não foi suficiente para trazer a média de volta ao patamar anterior à pandemia, mas já indica uma reversão brusca de trajetória. Segundo Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e também coordenador do estudo, “mais de 70% da recuperação da média de renda das famílias se deve aos rendimentos provenientes do trabalho. A taxa de desocupação caiu no período, e a média da renda per capita do trabalho subiu de R$1.428 para R$1.507, o que empurrou a renda das famílias para cima”. 

Além disso, o estrato que mais se beneficiou desse movimento foi o dos 40% mais pobres. O estudo mostra que entre estes a média de renda subiu 17,5%, o que é significativamente mais alto que a elevação de 8,4% no estrato dos 50% intermediários, ou que a alta de 2,3% entre os 10% mais ricos. Em números absolutos, a renda dos mais pobres chegou a R$510, superando o valor encontrado 2020 (R$504), e se aproximando daquele registrado em 2019 (R$515). Consequentemente, a desigualdade sofreu redução entre 2021 e 2022. O coeficiente de Gini – quanto maior, mais elevada a desigualdade – para o conjunto das metrópoles, por exemplo, caiu de 0,565 para 0,545 em apenas um ano. Dessa forma, chegou ao seu menor valor desde o ano de 2016. 

Salata explica que, também no que tange a redução da desigualdade, a renda do trabalho teve um papel central. “Os dados mostram que a redução verificada se deve, em grande medida, à queda da desigualdade na renda do trabalho. As famílias mais pobres foras as que proporcionalmente mais se aproveitaram da retomada do mercado de trabalho no período, e isso tem como consequência a queda da desigualdade”. Ribeiro, no entanto, pondera que os programas de transferência de renda, em especial o Auxílio Brasil, também foram relevantes. “No início de 2021 o pagamento do Auxílio Emergencial havia sido interrompido, e depois ele volta a ser pago com valores e cobertura menores. Já em 2022 temos o Auxílio Brasil turbinado por conta do calendário eleitoral, e essa diferença explica parte significativa da redução das desigualdades, embora seja menos importante que a renda do trabalho”. 

Além dos dados para o conjunto das regiões metropolitanas, o estudo traz informações detalhadas para cada uma das vinte e duas metrópoles do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, a taxa de pobreza variou de 29,7% para 25,3% entre 2021 e 2022, o que em termos absolutos significa que mais de 540 mil pessoas saíram da pobreza naquela região. Já em São Paulo, a variação foi de 23,9% para 20,2%, o que se traduz em mais de 790 mil pessoas ultrapassando a linha de pobreza. Em relação à extrema pobreza, a redução foi de, por exemplo, 11,2% para 6,9% na Grande São Luís, de 13,9% para 9,6% no Recife, e de 12,6% para 6,2% em Belém. 

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