Em uma mudança sutil de posição em relação à ditadura venezuelana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (4) que os problemas enfrentados pelo país vizinho devem ser confrontados. Parece não ter sido uma admissão dos ataques aos direitos humanos pelo regime de Nicolás Maduro, mas uma ajuste de discurso, vindo de alguém que se encontra isolado em sua posição.

Essa declaração ocorre poucos dias após uma manobra judicial do regime Maduro para excluir a candidata oposicionista à presidência, María Corina Machado, das eleições por 15 anos. A Venezuela tem sido um tema recorrente nas reuniões do Mercosul e tem gerado desgaste para o terceiro mandato de Lula. Lula é favorável ao retorno da Venezuela ao bloco, formado originalmente por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A Venezuela foi admitida em 2012 e suspensa em 2017 por causa da “ruptura na ordem democrática”.

Essa questão se torna mais delicada levando em consideração o contexto. O principal desafio de Lula como presidente do bloco é desbloquear o acordo comercial com a União Europeia, cujas negociações estão praticamente paralisadas desde 2019. O bloco europeu expressou “profunda preocupação” com a exclusão de María Corina e outros opositores na Venezuela.

Internamente, o apoio de Lula a Maduro também não é bem recebido. A visita do líder venezuelano ao Brasil, em maio, provocou descontentamento até mesmo entre os partidos aliados do governo.

No encontro do Mercosul desta terça, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, manifestou sua oposição à reintegração da Venezuela ao bloco, afirmando que o Mercosul precisa enviar um sinal claro para que o povo venezuelano possa caminhar em direção a uma democracia plena, que não existe atualmente.

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Lula vem defendendo o regime de Maduro em várias ocasiões. Após declarar que havia uma “narrativa” contrária à Venezuela difundida pela direita, o jornal venezuelano El Universal publicou um editorial intitulado “Lula está cego”. Recentemente, o líder petista também enfrentou críticas do presidente colombiano, Gustavo Petro, e do presidente chileno, Gabriel Boric.

O desconforto de Lula aumentou na última quinta-feira (29), quando ele deu uma entrevista à Rádio Gaúcha pela manhã e discursou à noite na abertura do Foro de São Paulo, um encontro de partidos de esquerda da América Latina e do Caribe. Na entrevista, ele declarou que a Venezuela “tem mais eleições do que o Brasil” e concluiu que o “conceito de democracia é relativo”.

Esses eventos têm contribuído para o crescente constrangimento de Lula. No final do mês passado, o jornal francês Libération o retratou na capa como “A decepção” e o classificou como um “falso amigo do Ocidente”. Essa crítica se referia não apenas às posições de Lula em relação à guerra na Ucrânia, mas também ao regime de Maduro.

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