O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (19) a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano. A decisão, amplamente antecipada pelo mercado, marca o fim de um ciclo de sete cortes consecutivos iniciado em agosto do ano passado.
A decisão do Copom foi unânime, uma mudança significativa em relação à reunião anterior, onde houve divergências entre os diretores antigos e os novos membros indicados pelo presidente Lula. Esse consenso era uma das grandes expectativas do mercado para a reunião de hoje, após a reunião passada ter gerado tensão nas expectativas. “O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, afirmou o colegiado em comunicado.
O Copom também sinalizou que permanecerá vigilante e que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”
A piora nas expectativas de inflação, com o IPCA de maio vindo acima do esperado e a aceleração nos núcleos, especialmente no setor de serviços, alimentado por um mercado de trabalho aquecido, gerou novas preocupações no Banco Central. “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, acrescentou o Copom.
O cenário fiscal também é motivo de alerta. O governo ainda não conseguiu aprovar no Congresso uma medida para compensar a desoneração da folha de pagamentos. Uma das propostas enviadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi limitar o uso de créditos do PIS/Cofins, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, rejeitou a proposta, colocando em xeque a agenda de Haddad. Na nota, o colegiado afirmou que “monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros” e destacou que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.