O céu acinzentado e o ar denso e irrespirável são sinais visíveis da crise que toma conta da Amazônia, que enfrenta o maior número de focos de incêndio em 17 anos. A tragédia é intensificada pela seca severa que já atinge mais de mil cidades brasileiras e pelo avanço das queimadas que devastam o Norte do país.
Desde janeiro, a Amazônia contabilizou 59 mil focos de incêndio, o maior volume desde 2008, e o mês de agosto ainda não terminou. A densa fumaça gerada pelas queimadas já alcançou dez estados e deve continuar a se espalhar nos próximos dias. Além da floresta amazônica, o Pantanal, Rondônia e até áreas na Bolívia também contribuem para o “corredor de fumaça” que avança pelo Brasil. Regiões como o Sul, Centro-Oeste e partes do Sudeste já registram a presença do ar poluído.
A seca intensa, que tradicionalmente se concentra entre agosto e outubro, começou mais cedo este ano, em julho, impulsionada pelo fenômeno El Niño e pelo aquecimento do Atlântico. Esses fatores, somados ao aquecimento global, reduziram drasticamente a umidade e as chuvas, agravando o cenário de queimadas. Em agosto, a Amazônia Legal contabilizou mais de 22 mil focos de incêndio, quase o dobro do mesmo período em 2022.
Com 60% dos municípios amazônicos enfrentando diferentes graus de seca, a vulnerabilidade ao fogo aumenta. Especialistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) alertam que a situação pode piorar nas próximas semanas, com a intensificação das queimadas e o prolongamento do período crítico. A frente fria que deve chegar nesta quarta-feira (21) pode agravar ainda mais a dispersão da fumaça, impactando regiões mais distantes do foco das queimadas.